— Silêncio, por favor, pessoal — a voz firme do professor Tanaka ecoou pela sala enquanto ele entrava, batendo levemente a m?o na mesa. A habitual agita??o matinal reinava, com conversas e risadas espalhadas por toda parte.
Gradualmente, os alunos foram se acalmando e acomodando em seus lugares, embora alguns ainda cochichassem.
Eu me sentei, mas, mesmo com o ambiente se tornando mais calmo, meus pensamentos eram uma tempestade incontrolável. As conversas e risadas parecia ecoar de longe, como se eu estivesse observando tudo de dentro de uma bolha, isolado. Os rumores sobre Kazuki e Yuki... n?o saíam da minha cabe?a. Será que era verdade?
Toda vez que eu pensava em Kazuki, o via com aquele ar confiante, sempre um passo à frente. Ele nunca parecia se abalar.
E Yuki... ela estava diferente. T?o distante, como se algo a estivesse puxando para longe de nós. Para longe de mim. Por que ela n?o falava nada? O silêncio dela me deixava ansioso, como se cada dia fosse um peso a mais nas minhas costas.
O barulho da sala continuava, mas minha mente estava presa naquela dúvida corrosiva. E se eles realmente estivessem juntos? N?o seria estranho... Kazuki tinha tudo o que eu n?o tinha: confian?a, carisma, presen?a.
E eu? Eu só conseguia trope?ar nas minhas próprias palavras perto dela.
Mesmo ali, o simples fato de imaginar que eles pudessem estar juntos fazia meu est?mago revirar. N?o conseguia me concentrar, n?o conseguia parar de imaginar cenários que me apunhalavam com inseguran?a.
— Como vocês sabem, a viagem escolar está se aproximando — o professor Tanaka anunciou, provocando uma onda de excita??o instantanea.
Vários alunos come?aram a cochichar entre si, com olhos brilhando de anima??o.
— A gente vai para onde, professor? — alguém perguntou do fundo da sala, e risos abafados ecoaram logo depois.
O professor levantou as m?os, pedindo calma, com um sorriso no rosto.
— N?o se empolguem demais — ele alertou, ainda sorrindo, mas logo seu tom ficou sério novamente. — Vocês v?o se divertir, claro, mas também precisar?o fazer anota??es e prestar aten??o em alguns aspectos importantes durante a viagem.
Um murmúrio de frustra??o percorreu a sala, e eu ouvi Akira, sentado perto de mim, resmungar baixo:
— Ah, claro... sempre tem um "mas" escondido... — Ele revirou os olhos, arrancando mais risadas ao redor.
A turma riu, mas logo o professor prosseguiu, ignorando os comentários.
— O destino ainda n?o foi decidido. Quero ouvir algumas sugest?es de vocês, embora eu já tenha alguns lugares em mente — disse ele, olhando para nós.
Imediatamente, a sala explodiu em conversas mais uma vez, com alunos debatendo entre si. Alguns trocavam ideias em voz alta, enquanto outros apenas cochichavam. Eu observei a movimenta??o por alguns segundos, mas logo meu olhar voltou para Yuki. Ela parecia alheia a toda a agita??o ao nosso redor, com o olhar fixo na janela, como se estivesse longe dali.
Por que ela estava assim? Será que os rumores estavam mexendo com ela também?
— Eu acho que a gente devia ir para as montanhas! — Aiko levantou a m?o de repente, sua voz cheia de determina??o. — Imagina só... Escalar, caminhar por trilhas, acampar! Seria a chance perfeita para todo mundo se desafiar e superar os seus limites!
Mas antes que ela pudesse continuar, a turma já estava protestando em uníssono.
— Escalar montanhas? Você tá maluca, Aiko? Eu n?o t? afim de morrer congelado! — Akira riu, e a turma logo o acompanhou, deixando Aiko um pouco frustrada.
— Montanhas? Você quer que a gente vá para o meio do nada? — cochichou Yumi para a colega ao lado, suas sobrancelhas arqueadas em ceticismo.
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O professor Tanaka também sorriu, mas balan?ou a cabe?a.
— Agrade?o pela sua sugest?o, Aiko. Escalar montanhas parece interessante, mas talvez seja um pouco... intenso para uma viagem escolar, n?o acha?
— é, Aiko, eu prefiro n?o voltar para casa em peda?os, se n?o se importa... — A sala irrompeu em risadas mais uma vez, enquanto Aiko, de bra?os cruzados, olhava para o teto, claramente contrariada.
Logo depois, Yumi levantou a m?o, atraindo a aten??o do professor.
— Que tal Hokkaido, professor? — sugeriu Yumi, um brilho de entusiasmo em seus olhos. — Lá tem paisagens lindas, muita neve e até alguns lugares históricos. Seria uma viagem incrível, e ainda podemos comer uma ótima comida!
— Hokkaido? Isso sim seria uma aventura! — concordou um aluno no fundo, já sonhando com as comidas locais.
A sala ficou em silêncio por um momento enquanto todos ponderavam a sugest?o. Um coro de murmúrios positivos come?ou a se espalhar.
— Hokkaido seria ótimo! A comida lá é famosa também, n?o é? — comentou uma aluna na frente.
O professor Tanaka assentiu, parecendo satisfeito.
— ótima sugest?o, Yumi. Hokkaido tem realmente muitas op??es interessantes, além de uma culinária única. Mais alguém?
A m?o de Sora se levantou timidamente.
— Que tal uma lanchonete? — disse ela toda animada.
O silêncio que se seguiu foi quase c?mico. Todos olharam para ela, confusos. Até que Akira, mais uma vez, interveio.
— Uma lanchonete? Você quer que a gente fa?a uma viagem escolar para comer hambúrguer e batata frita? — ele riu, balan?ando a cabe?a em descren?a.
— Eu só pensei que... poderia ser divertido... — Sora murmurou, encolhendo-se sob o olhar dos colegas, visivelmente envergonhada.
O professor Tanaka riu, tentando suavizar a situa??o.
— Acho que uma lanchonete pode n?o ser o destino ideal para uma viagem escolar, Sora, mas obrigada pela ideia.
— Ela só pensa em comida! — cochichou Akira para o colega do lado, arrancando mais risadas.
Logo depois, Mai levantou a m?o, com uma express?o mais séria.
— E se a gente fosse para uma biblioteca em Tóquio? Como a National Diet Library! — ela sugeriu, o que fez alguns alunos revirarem os olhos. — Poderíamos visitar uma das maiores bibliotecas do país e aprender mais sobre nossa história, enquanto exploramos a cidade!
Um murmúrio de descontentamento percorreu a sala.
— Biblioteca? Sério? — alguém cochichou.
— Que tédio... — suspirou outro aluno.
— Ah n?o, n?o uma biblioteca... — O desanimo era palpável, e mais cochichos se seguiram.
Eu notei que Rintarou, ao contrário da maioria, parecia empolgado com a ideia. Ele se inclinou para frente, os olhos brilhando.
— Eu acho uma ótima ideia, Mai. Bibliotecas s?o subestimadas, e Tóquio tem umas incríveis.
Mas a maioria dos alunos balan?ou a cabe?a, claramente n?o t?o entusiasmada.
— Excelente sugest?o, Mai. Ainda que n?o seja o destino mais popular, bibliotecas têm muito a oferecer. Quem sabe podemos combinar uma visita com outro tipo de passeio?
O professor agradeceu a sugest?o de Mai, mas logo passou para o próximo.
Kazuki ent?o levantou a m?o, e a sala ficou quieta novamente.
— Acho que devíamos ir até Kyoto! — disse ele, de forma direta. — Templos históricos, jardins tradicionais... Seria uma experiência enriquecedora para todos. O que acham?
— Kyoto seria incrível! Eu sempre quis visitar os templos! — Um coro de aprova??o seguiu a sugest?o, dividindo a sala.
Um murmúrio de aprova??o ecoou pela sala, com vários alunos acenando com a cabe?a.
— Boa sugest?o, Kazuki. Kyoto tem muito a oferecer, tanto em termos de cultura quanto de história, — o professor concordou, sorrindo.
A sala parecia dividida entre Hokkaido e Kyoto, e o professor Tanaka logo percebeu a situa??o.
— Vamos fazer uma vota??o — ele disse, pegando um giz e indo até o quadro. — Cada um vai levantar a m?o para o lugar que preferir.
A vota??o come?ou, e as m?os se ergueram de um lado para o outro. Quando chegou a minha vez, levantei a m?o para Hokkaido, mas percebi que estávamos empatados.
— Falta um voto! — o professor observou, virando-se para Yuki, que ainda olhava pela janela, distante de tudo. — Yuki, você ainda n?o votou.
Todos os olhares se voltaram para ela. Ela piscou, como se tivesse sido trazida de volta de um sonho, e olhou para a sala com uma express?o confusa.
— Vai em Hokkaido, Yuki! Vamos poder ver a neve! — sussurrou um aluno.
— N?o, Kyoto! Você n?o quer ver os templos também? — disse outro, ansioso.
Ela hesitou por um momento, o olhar perdido. O que estava acontecendo com ela? Algo parecia errado, mas eu n?o conseguia entender o que.
Finalmente, Yuki levantou a m?o lentamente.
— Kyoto... — murmurou ela.
Metade da sala suspirou, decepcionada, enquanto a outra metade comemorava.
— Ent?o está decidido! — o professor Tanaka sorriu. — A viagem será para Kyoto. Irei conversar com os professores das outras turmas e, amanh? eu entregarei as autoriza??es para vocês levarem para os pais assinarem.
A sala se encheu de uma onda de excita??o. Grupos come?aram a se formar, trocando ideias sobre o que fariam durante a viagem. Os sons das vozes felizes e animadas me cercavam, mas eram apenas um ruído distante para mim.
Meus olhos estavam fixos em Yuki.
Ela continuava com o olhar preso na janela, completamente alheia ao turbilh?o ao seu redor. A luz do sol iluminava seu rosto, destacando a express?o vaga e ausente que me deixava com uma sensa??o de inquieta??o.
A verdade é que eu n?o conseguia ler nada no rosto dela. N?o conseguia entender o que estava se passando em sua mente. Era como se uma parede invisível tivesse se erguido entre nós.
Ela estava t?o perto de mim, mas ao mesmo tempo, t?o longe.
Por que ela parecia t?o distante?